Depois de nos despedirmos da Table Mountain, os dois primeiros dias são passados percorrendo território sul-africano em direcção a norte e à fronteira com a Namíbia. A região à volta da Cidade do Cabo é muito verde e onde prosperam as culturas vinícola e de citrinos, e na nossa primeira noite experimentamos uma prova de vinhos de uma quinta familiar. Nessa primeira noite do Overland, montamos tenda e, pela primeira vez, experimentamos as noites frias do inverno da África Austral.
Conforme progredimos para norte, o terreno vai tornando-se mais árido, a vegetação mais pequena e menos colorida, e o tempo frio e húmido vai gradualmente aquecendo um pouco (pelo menos, durante o dia), sendo que o céu azul vai aparecendo mais frequentemente. O vento, esse, é uma constante nos primeiros dias do Overland.
Depois de passarmos a região montanhosa de Cederberg, chegamos ao final do 2º dia à fronteira com a Namíbia, sendo o rio Orange aqui a fronteira natural. Rico em diamantes, este rio proporcionou-nos momentos de uma preciosidade diferente quando, na manhã do 3º dia, nos aventuramos de canoa pelas suas calmas águas. O dia tinha nascido cinzento mas, conforme descíamos o rio, o céu ia tomando as cores azuis que contrastavam com o amarelo e castanho da paisagem circundante.
O grupo, esse, já tinha aumentado pois tínhamos recebido uma família de ingleses que o mau tempo tinha retido no barco que os trazia da ilha de Santa Helena para a Cidade do Cabo. Depois de almoço, cruzamos rapidamente a fronteira com a Namíbia e a paisagem alterou-se ainda mais, assumindo um carácter marcadamente desértico. Quando comparado com o início da viagem, parecia que tínhamos entrado num planeta diferente!
No final do 3º dia do Overland, estava reservada uma das atracções da viagem, o Canhão do Rio Fish, um dos maiores do mundo, com 160 km de comprimento e cerca de 400 m de profundidade. Os percursos a pé junto ao rio só são possíveis com uma permissão e podem demorar até 9 dias, por isso limitamo-nos a percorrer alguns quilómetros na sua borda, aproveitando as cores proporcionadas pelo pôr-do-sol. Os dias são por vezes longos e cansativos, mas o final do dia, com os preparativos do jantar e uma fogueira para espantar o frio, é a hora ideal para o grupo se ir conhecendo melhor.
No 4º dia de Overland, atravessamos 500 km de região desértica rochosa para acamparmos junto das dunas de Sossusvlei, às portas do Parque Nacional Namib-Naukluft, o mais extenso de África. Logo que chegamos, fomos dar uma caminhada pelo Canhão de Sesriem, cavado pelas forças conjuntas da água (agora apenas ocasional, em regime de enxurrada na época das chuvas nas montanhas), da amplitude térmica diária e do vento, o criador omnipresente das dunas que visitaríamos no dia seguinte. Esta acabou por ser uma agradável surpresa, sendo extremamente interessante do ponto de vista geológico. À noite, apesar do vento incessante e de algum luar, aproveitamos o céu estrelado para tirarmos algumas fotos. Dormir é que foi o problema. Apesar de bem fechada, a tenda abanou toda a noite à mercê do vento e, cada vez que éramos atingidos por uma rajada mais forte, entrava areia dentro da tenda, atingindo-nos na cara. Foi a nossa pior noite e, de madrugada, os sacos-cama, colchões e mochilas estavam cobertos de areia fina e laranja do deserto namibiano.
Seguindo de camião Overland, dirigimo-nos para norte, sempre em terreno desértico, com as dunas espreitando no horizonte, para acamparmos em pleno Parque Nacional, onde tivemos um percurso guiado pelas redondezas, com as explicações de um guia local, France, especializado na vida animal e vegetal local e nos costumes dos bosquímanos (agora deslocados para terras mais a norte) e que nos deixou boquiabertos com a sua boa disposição e sabedoria. À noite, aproveitamos a oportunidade de ter um “water hole” perto do acampamento para observarmos um grupo de dezenas de zebras de montanha a saciar a sede. Era o nosso primeiro contacto de monta com vida animal selvagem.
Ao 6º dia de Overland, cruzamos o Trópico de Capricórnio e aproximamo-nos da costa namibiana, mas não nos afastamos das areias e terreno árido. O deserto namibiano chega até ao mar, constituindo uma paisagem deslumbrante e (quase) única, lembrando-nos o deserto do Atacama, na América do Sul. Paramos para almoço na baía de Walvis, na companhia de flamingos cor-de-rosa. Leve, constituído por sanduíches ou saladas, e onde quer que o nosso camião parasse, o almoço era sempre também uma oportunidade de conversar e partilhar as experiências dos últimos dias.
As dunas regressam em força quando nos aproximamos de Swakopmund. Esta cidade seria a nossa primeira pausa, a cerca de um terço da viagem, com duas noites em “accomodation” (ou seja, dormindo numa cama!) e um dia de descanso. Ou não! Swakopmund é conhecida como a Capital da Aventura namibiana e actividades como observação de golfinhos, pesca, passeios de mota pelas dunas, sandboarding, saltos de queda livre e vôos de observação do deserto e costa fazem com que todos os gostos possam ser satisfeitos. Bem tentamos o “scenic flight”, mas não conseguimos arranjar companhia para partilhar os custos elevados do avião. Ficou uma boa razão para voltarmos!
Os jantares em conjunto em restaurantes da cidade, em ambiente relaxado e mais confortável, permitiram uma maior aproximação do grupo, que aqui teria a adição de mais dois elementos, ambos oriundos da Holanda, engrossando os números desta nacionalidade. Depois deste breve descanso, sentíamo-nos revigorados e prontos para a próxima parte da nossa viagem de Overland e ansiosos pelo que nos esperava.
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Olá Rui e Carla. Descobri recentemente o vosso blog e adoro-o :D.
Conhecer Africa está à muito no meu itinerário, mas os preços até agora ainda não fizeram isso possível até descobrir a palavra Overland.
Adorei a vossa viagem pela Africa austral bem como pelo Quenia e Tanzania e tenho duas perguntas:
– Quais as empresas que utilizaram para fazerem estes dois Overlands?
– Visto que passam vários países como fazem com o dinheiro? Levam cartão de credito, levam dolares…?
Obrigada e boas viagens