No nosso percurso pelo Egipto, Jordânia, Síria e Israel, vamos percorrendo a chamada
Terra Santa, região onde se concentram os locais que serviram de pano de fundo aos acontecimentos descritos nas páginas da Bíblia. Um desses locais é o rio Jordão e muitos dos locais de importância bíblica desta região espalham-se pelas suas duas margens que, curiosamente, pertencem a países diferentes. Isto porque grande parte do curso do rio Jordão, desde o
Mar da Galileia até ao
Mar Morto, coincide actualmente com a linha de fronteira entre a Jordânia e a Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967, também designado por Margem Ocidental.
Saímos numa viagem organizada a partir de
Madaba, com dois locais bíblicos no nosso trajecto: o monte Nebo e o local de baptismo de Jesus. O monte Nebo ergue-se no final de uma cadeia montanhosa, na orla do Mar Morto, e oferece vistas espectaculares deste e da área circundante. Mesmo com a neblina (causada pelo calor) que caracteriza esta região durante o Verão, é possível ver claramente, por exemplo, a cidade milenar de Jerico, já do outro lado da fronteira. E é por estas vistas que este monte é conhecido na Bíblia! Moisés, depois de ter guiado o seu povo pelo deserto desde o Egipto, viu a Terra Prometida do cimo deste monte, mas Deus disse-lhe que só a poderia admirar mas que já não a pisaria pois estava reservada apenas para a sua descendência. Diz-se que foi enterrado nesta área e no século IV foi aqui construído um santuário para o honrar sendo, no período bizantino, transformado numa basílica. No século XX, a igreja tem sido reconstruída (e ainda hoje continua!) e é agora conhecida por Igreja Memorial de Moisés. Local visitado pelo Papa Joan Paulo II em 2000, tem mosaicos interiores muito bonitos, mas as obras de edificação de uma nova basílica levaram ao seu fecho e assim não a pudemos visitar. Restou-nos o pequeno museu e o miradouro, onde pudemos tirar algumas fotos.
Daqui seguimos para a margem do rio Jordão, onde se pensa que Jesus terá sido baptizado por João, num local designado aqui por “Betânia para além do Jordão“. Como é uma das linhas fronteiriças mais problemáticas do planeta, está fortemente militarizada (de ambos os lados), não sendo possível o acesso particular do lado jordano. A cerca militar só se abre a um autocarro que parte de meia em meia hora de um parque junto a bilheteira (sim, porque também se paga para ver a margem do rio!). Foi assim integrados num grupo de turistas, com a presença de um guia, que atravessamos a zona militarizada até chegarmos a área que poderíamos percorrer a pé. A primeira visão do Jordão foi um choque para mim. É apenas um pequeno riacho poluído, condição a que chegou pelo desvio da sua água, desde o Mar da Galileia, por Israel e Jordânia e por descargas de esgotos ao longo do mesmo curso. Mais adiante, encontram-se as ruínas de três igrejas construídas no período bizantino no local tradicionalmente mencionado como o de baptismo de Jesus. O rio já não passa pelo local, pois o seu curso tem sido modificado pela diminuição drástica do seu caudal, por isso é preciso usar muita imaginação para visualizar esse acontecimento histórico!
Esta zona só está acessível ao turismo desde 2002 (decorrente dos acordos de paz de Camp David) e encontram-se nas redondezas várias igrejas recentes e outras ainda em construção. Andamos mais um pouco para visitar o local onde os peregrinos actuais que assim o desejam, são baptizados. A Carla ainda foi molhar os pés (depois do Ganges, o rio Jordão!) mas a cor do rio não me inspira confiança… O mais curioso é que, naquele local, o rio não tem mais do que 3 metros de largura e, do outro lado, encontra-se o local onde se faz exactamente a mesma coisa mas em terras palestino-israelitas! Vemos diante de nós, quase a mão de semear, um edifício com a bandeira de Israel e umas escadas de acesso ao rio, sendo que os locais de baptismo estão rodeados por cercas mergulhadas na água!
É evidente que as questões religiosas são vividas por cada um de acordo com a sua personalidade e convicções, mas a verdade é que estes locais, na minha opinião, estão actualmente de tal modo carregados de importância politica, militar e até económica, que se torna difícil de sentir o seu simbolismo religioso. Não deixa de ser, no entanto, uma visita extremamente interessante, por todas as razões, e um ponto de paragem obrigatório para quem se encontra nesta margem do rio Jordão. Daqui a duas semanas, se tudo correr bem, estaremos já na outra margem visitando outros locais de interesse bíblico (e não só!).